Solilóquio multitudinário
O que em mim sou eu mesmo?
O que em mim, natureza?
O arauto empático outono
esparrama-se às manhãs
co’a urgência sem questão
que casual surja à tona
venha demorar em mim
logo antes entretido
com espantar pernilongos
e encorajar-me pro dia
Revisito estâncias idas
revisto-as de novo olhar
e mais se me nubla o tênue
as folhas entre mim e os
alheios que me perfazem
meus ares identitários
gestos, desejo e repulsa
Vou no encalço deste dia
incerto de quem me move
suspicaz de me saber
Desvencilhar-me de mim?
Semovente a taras rasas
sedizente eu que sei
um semorrente translado?
Se digo “eu”, tão só cedo
aferro-me a isto ínsula
temente de qual vazio
espreita além das beiradas
Porém, isto estuário
provoca-me à vastidão
Quando tal átimo inclina
a senciência que avento
e arma-me em panorama
eu me replico em distintos
circum-navegante espécie
de nós que de mim sabemos
(solitariamente iguais)
mais que qualquer, não mais que
unos indivíduos surdos
ao rés deste dito mundo
Até outrem alternâncias
sazonais já ressequiram
a empatia esparsa rente
às revoluções do mesmo
Há um limiar para
compaixão mais envolvente
solidão transfigurada
Ali o efêmero despe-se
miraginal ou não, acho
mais nos define que a mim
Por ora, o muito embora
vesperalmente parindo
canoras indagações
madurando nas ramagens
descendentes da paixão
e quase eu já nem perscruto
quanto lateja o segredo
pois os ritmos inda se
encadeiam casuais
de acordo no desígnio
A que resume a saudade
a calada diz melhor
Entre ser o mesmo e alter
de algum elo pertencente
descontinuo motivos
emaranhando carícias
vertentes distintivas
de afetos que me aliciam
ora pra o que me situa
ora aonde me deságuam
Mas nunca coincidir
magro fluxo involuntário
nas intempéries cortantes
gordas do pasto das almas
De fato poeta por
teimosia e frustração?
Adéquo-me a quem me cabe
esperançoso de eu
próprio prescindir a tempo
de nós, disfarces sanguíneos
Acima destas masmorras
simbolicamente cegas
abóbada incognoscível
cevará o avesso d’olho?
Saciará com ossamas
o oco da tediosa
plenitude quase abúlica?
Ruminará sãs respostas
(obsessão de cientistas)
pra que não se gore o jogo?
O que em mim somos nós?
O que em nós, natureza?
Não calha a hipótese clara
o apocalipse não cifra
nem que se alegue a verdade
indubitável, saber-
se-á a graça em contê-la
enquanto for pensamento
enquanto o verbo ecoar
as formas que me atribuo
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