Marte e Morte familiar
Como assim esse medo
de que a guerra comece agora?
- A guerra já começou! — devo avisar meus amigos
que a maior guerra está aí de velhas datas
vive mesmo tão perto
tão dentro por vezes, a nossa cara
esganando na gente
a inimiga desolação das mentiras
as ex-caras avessas, a lebre
Logo adormecem o seu medo
(o enforcado ouve e assente)
adentram um novo mundo de sonho
sem pomba alvissareira
sem norte ou caravela:
não viram chegar a guerra
arder a guerra que mora neles
castigar nossa inocência cúmplice
nossa morna ingratidão imbele
Nutrindo-a do sangue de notícias, bandeiras
se consolam, não ouvem ranger as mesas
não
(vasculho jardins de hipóteses tumulares):
todos vão a campo aberto
sem dar pelos nossos corpos no pavor da matança
(a cada um, Satã gatilha o revólver)
Desde muito, a guerra já ceifou nossas vidas
Devo contar dos renovos, rebentos de fúria?
Apenas perduramos
de uma reversa agressão curupira
01.2020