Deixai e descansai
Em verdade, não se pode amar
em um mundo em que tanto se reluta
até quanto à mera verdade tangível
onde ciência e magia
reirmanadas
elucidam as chaves da caverna comum
mas não as da vontade acorrentada que
corre para o sacrifício
com os louros pálidos da conquista
áureas feridas da derrota
Não se pode amar
exceto em mentira
- amemos, pois, a fundo
devoremos cada contingente de ideais
consolo esparso de assinalados sem escolha
satisfeitos com o nosso lugar na fila
e talvez toquemos a raiz do engano
e, reconhecidos, confessemos talvez
as cinzas da ventura imaginada
a estreiteza chamuscada da pauta
Aceitemos que é insuportável
esse leve impulso redentor
para quem já se convenceu do jogo dos outros
para quem se entretém com as sombras do proscênio
nesses estágios baixos da pirâmide
lavando os olhos do que acaso vislumbra
no topo
alto demais pra que não se confunda
com a luz de estrelas mortas
Contenha-se, qualquer você
porque não é lícito amar
apenas gozo e procriação
apenas a parte de afeto que
em nosso pouco interesse, nos perpetua
para a maior glória daqueles
Abandone toda a esperança
quem recua e se deixa governar
porque seu é o descanso das noites
como deles é o que seria
o seu próprio tempo
pra vigília e oração