A RIQUEZA QUE JÁ TEMOS - três aforismos
2 min readOct 9, 2021
- Importa tanto a finalidade desejada como a preservação do que já somos, possuímos e a que pertencemos. Quando se fala do caminho do meio, da dança das mutações, da ação pela não-ação etc., no contexto das filosofias orientais, refere-se quase sempre a um equilíbrio existencial que tende a nos tornar mais conscientes de aspectos da realidade que normal e frequentemente a avalanche de estímulos fisiológicos e exteriores nos leva a ignorar.
- Ora, a ordem do tempo atual é a reprodução do capital, o foco no lucro, o eixo presencial pendente para o futuro, para a tentativa de conquista sobre a alteridade, culto da incompletude efetiva. A loucura doentia capitalizada pelo mercado é muito um sintoma da moral do resultado das atividades fruitivas, como diria Krishna. Tanto nossa ignorância quanto nossa paixão e bondade objetivam os pequenos e grandes lucros ainda por vir. Esquecemos o que já somos, possuímos e, sobretudo, a que pertencemos, sofrendo, em demasiada compensação, pela falta do que ainda precisa se materializar. A tão discutida e naturalizada mercantilização da vida nos sequestrou e enclausurou num pesadelo do futuro.
- Infere-se que o presente é o eixo da experiência temporal. Ao seu redor, gravitam a consciência vestigial do passado e a consciência prospectiva do futuro. Podemos nos inclinar mentalmente para um ou outro sentido, mas sempre tendo o presente como fulcro (não é tão fácil quanto pensam nos acusar de não viver o presente, apenas de não domar o fluxo). Há que nisso reconhecer efeitos das percepções mnemônicas e prospectivas no processo cognitivo e na administração factível das contingências. Independentemente dos dogmas metafísico-mitológicos das infindáveis doutrinas filosófico-religiosas, muitas delas já nos proporcionaram princípios para aprimorarmos o nosso senso de presença e abstração corpomental, uma vez que a consciência presente é o que nos une e identifica distintamente de nossas partes indivíduas, veículos de conhecimento mundano.
- Uma clara finalidade da criação afigura-nos o autoconhecimento do próprio criador. Não nos cabe condenar a natureza humana sendo que assim se fez, por vontade cósmica incomensurável. Se sofremos, não se devem inculpar atributos de nossa corporeidade, senão os desvios de nossa corpomentalidade, submetida e obcecada pelos massacres semióticos do desejo e finalidade, obliterante do Deus que em verdade e consciência somos pertinentemente. Somos o que diz respeito ao Deus em que nos subsumimos. Os deuses que nos dizem respeito são os que existencialmente narramos.
TMM